sábado, 8 de novembro de 2008
ATENÇÃO PRIMÁRIA: MINISTÉRIO DA SAÚDE TREINA PROFISSIONAIS PARA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
Um advogado recém-formado, chamado Airton Barreto, decidiu viver e lutar pelos direitos humanos dos moradores de uma favela chamada Pirambu, em Fortaleza. Ao chegar lá para ajudar aquela população começou a perceber que muitas das demandas não eram apenas jurídicas, mas problemas de todo tipo, relacionamentos, álcool e outros.
Esses indivíduos eram encaminhados para Adalberto Barreto, psiquiatra e irmão de Ailton, que trabalhava na Universidade Federal do Ceará. Como Adalberto não tinha condição de atender a todos, foram criados grupos, mas ao invés de levá-los a universidade, Adalberto foi lá ver de perto e estar junto da comunidade. Foi assim, há 20 anos, que surgiu a Terapia Comunitária (TC), experiência que está sendo adotada na atenção primária pelo Ministério da Saúde.
Por meio de convênio entre o Ministério da Saúde e Universidade Federal do Ceará serão capacitados 1,1 mil profissionais das Equipes Saúde da Família até março de 2009. O Projeto de Implantação da Terapia Comunitária na Rede de Assistência à Saúde do SUS pretende desenvolver, ainda em 2008, nos profissionais da área da saúde as competências necessárias para promover as redes de apoio social na Atenção Básica. A proposta prevê a preparação dos profissionais para lidar com os sofrimentos e demandas psicossociais, de forma a ampliar a resolutividade desse nível de atenção. O sofrimento pode preceder ou acompanhar uma patologia.
O curso de capacitação profissional será composto por 360 horas/aula, estão previstas 15 turmas com 70 profissionais de saúde, distribuídas nas cinco regiões brasileiras. Preferencialmente, com participação de agentes comunitários de saúde atuantes em municípios que apresentem, no mínimo, 70% de cobertura da estratégia Saúde da Família.
PELO BRASIL – Hoje em dia, a TC está presente nas 27 unidades da federação. Ao todo, são 30 pólos formadores, que já treinaram 11,5 mil terapeutas comunitários. No Pólo Quatro Varas, são atendidos, em média, três mil pacientes por mês. A terapia, conduzida por um facilitador, acontece semanalmente em encontros de duas horas. A cada reunião, um problema é eleito para ser discutido. São valorizadas as histórias de vida dos participantes, o resgate da identidade, a restauração da auto-estima e da confiança em si, a ampliação da percepção dos problemas e possibilidades de resolução.
“Procura-se promover a saúde em espaços coletivos e deixar que a patologia seja tratada individualmente pelos especialistas. A prática tem demonstrado ser um instrumento valioso de intervenção psicossocial na saúde pública; um espaço de acolhimento, de escuta, palavra e vínculo”, explica Adalberto.
Das situações-problema discutidas no pólo Quatro Varas de Fortaleza, por exemplo, 88,5% foram resolvidas nas TC e apenas 11,5% necessitou de encaminhamento para a Atenção Básica/Saúde da Família. Adalberto Barreto, criador da terapia, chama a atenção para a ampliação do vínculo de apoio social que seus participantes passaram a contar: “um terço das pessoas aumentou a sua rede de apoio para serem acompanhadas aos serviços de saúde”.
METODOLOGIA DA TERAPIA - A situação-problema é apresentada por alguém e escolhida pelo grupo. O facilitador procura estimular e favorecer a partilha de experiências possibilitando a construção de redes de apoio social. Uma pergunta desencadeia a reflexão: “Quem já viveu algo parecido e o que fez para resolver?”.
Assim, a comunidade descobre que ela tem problemas, mas também tem as soluções. E aos poucos, vai se descobrindo que a superação não é obra particular de um indivíduo ou de um terapeuta, mas é da coletividade.
Durante a terapia, não se pode dar conselhos ou sermões e, se necessário, interromper a narrativa da história com músicas, anedotas ou mesmo perguntas.
Temas mais freqüentes levados para a Terapia Comunitária
-Estresse e emoções negativas 26%
-Conflitos familiares 19,7%
-Dependências: álcool e outras drogas 11,7%
-Questões ligadas ao trabalho 9,6%
-Trabalho 9,6%
-Depressão 9,3%
-Fraturas dos vínculos sociais (Abandono, discriminação)
-Violência 6%
-Conflitos 3,6%
-Outros 5,3%
Fonte: Ministério da Saúde
http://www.agenciaaids.com.br/noticias-resultado.asp?Codigo=10831
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